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Ilustração de Andreas M. Wiese |
Parou o automóvel na rua deserta.
As casas dissimuladas pelos jardins, a folhagem muito escura, as flores brancas, amarelas, cor-de-rosa. E um leve perfume que se insinuava como uma neblina.
Pássaros.
O mar cheio de vento.
E as ilhas, cinzentas, ao longe.
As ilhas que sempre tinham feito parte do cenário.
Um cenário de cartão pintado.
Patrícia encostou a face ao volante.
"Estou de volta."
Riu baixinho.
Para dissimular o medo.
Medo de ficar fechada.
"Se alguém fechar os cortinados..."
Cortinados espessos, de veludo.
Mas aquela sensação de claustrofobia, trouxera-a consigo. De espaços abertos, de outras cidades.
Como se tivesse estado numa cela. Ou num deserto.
Ana Teresa Pereira, in Num lugar solitário, Relógio d'Água, 2012, II Parte, Cap.º 1, p. 53