Ilustração de Alice Vilhena |
E depois estava a escrever... estava a escrever de novo. As personagens eram só personagens, a casa era só uma gravura, e não havia amor, e não havia sofrimento.
O livro estava a tomar a sua forma definitiva e ela descobria coisas novas nele, estranhas simetrias (assustadoras simetrias), por vezes uma anotação na margem dava um sentido inquietante às outras palavras... E ela encontrava-se naquele estado que não tinha nome, consciência alterada, talvez um estado de graça, e o livro era só a parte visível do que estava a acontecer. E por vezes levantava-se e olhava em volta, porque sentia, muito forte, dentro do quarto, o cheiro da pantera.
Ilustração de Helene Terlien |
Ana Teresa Pereira, in A Pantera (2011:85)
ibidem (p.88)