Em Os novos Maias, editado pelo jornal Expresso (1ª parte), o prefácio, intitulado "Profecias d' Os Maias", é uma clara e bastante útil análise das personagens dos episódios da vida romântica. Espelha de modo fidedigno os temas e a crítica social da obra magistral queirosiana, o que a torna tão atual. É um bom retrato das personagens-tipo, do seu significado e da sua intemporalidade.
O texto de José Luís Peixoto, que retomou o romance desde o último episódio, com Carlos da Maia e João da Ega a correrem para apanharem "o americano", revela que o autor conhece bem o universo da obra que o inspirou e a relação entre estas duas personagens. As descrições são vivas, polvilhadas de humor, e Carlos, Ega e Dâmaso Salcede readquiriram a sua densidade psicológica. Com mais ou menos surpresa, a diegese prossegue, sob a curiosidade do leitor, até que este tropeça em anacronismos. Em "Apesar da pressa, não caminharam demasiado rápido", a substituição do advérbio "depressa" pelo adjetivo "rápido" denuncia a linguagem do século XXI (ou mesmo de finais do século XX).
Ilustração de Saja, Sabine Jeannot |
Porém, o maior sobressalto do leitor surge quando o silêncio de 1900 é "interrompido pela estridência de uma mensagem de telemóvel". Em 1900? Quando o propósito da narrativa é fixá-la entre 1887 e 1910, como é anunciado na "Nota prévia" da edição do jornal Expresso? É de se lhe tirar o chapéu, José Luís Peixoto!