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Ilustração de Bella Sinclair |
O odor é volátil, só conseguimos falar dele por metáforas, mas, na verdade, nada tem de abstrato. A sua volatilidade destina-se a materializar-se. Quando alguém derrama sobre a sua pele umas gotas de perfume, o mesmo perfume, fabricado pela indústria em quantidades colossais, passa a ser apenas seu. Torna-se a sua exalação. O corpo torna os perfumes irrepetíveis, pois absorve-os e reprodu-los de uma forma que é só sua.
Tolentino Mendonça, in A mística do instante – O tempo e a promessa, Paulinas, 2014, col. Poéticas do viver crente , pp. 115-116