Ilustração de Alexandra Gallant |
Então aguardaram pelo dia seguinte. Era um final de Agosto quente como não havia memória de semelhante. Os veraneantes costumavam sair de noite das exíguas casas dos pescadores e deitar-se ao relento, olhando as estrelas. Contudo, durante certa madrugada, muitos dos hóspedes tinham sido obrigados a recolher aos quartos onde sempre cheirava a polvo e a peixe seco.
Aquela noite havia trazido mudança. O vento tinha passado a sudoeste e a maré alterosa havia batido com força no pequeno bar da praia. O dono do Hotel Paraíso lembra-se. O banho do meio-dia das raparigas tinha envolvido gritos altos, braços no ar como nunca antes. Os mailots ameaçavam rasgar-se. A areia havia-se introduzido por todas as costuras. A que escrevia cartas tinha saído de água com pedras entre os seios.
Ilustração de Rebecca Kinkead |
O mar permanecia quente, e a areia, escurecida pelo sol, abria-se em línguas por onde escorria água em regatos que alcançavam as ondas. De repente, calor e vento, unidos, faziam-se agrestes. Deveriam as raparigas, de tarde, passear naquele areal sem fim, onde costumava encontrar-se o homem do toalhão encarnado?
Lídia Jorge, "O conto do nadador", in Marido e outros contos, D. Quixote, 2008, 5ª ed., p. 134