Num árido e abrupto vale, habitado apenas pelo rumor longínquo do rio lutando para conseguir passar entre as estreitas fragas, uma voz disse-me que só estamos aqui de passagem, que a nossa estadia na terra é temporária. Sentado nas pedras, aprendi que essa voz, atravessando aquela solidão arcaica e silenciosa, era o próprio rio, imparável.
Rui Chafes, "O perfume das buganvílias 1" , in Entre o céu e a terra, Documenta, 2012