Ilustração de Pinwheel Bunny |
Esvazio uma colheita de estrelas na eira
do infinito, onde as velhas deusas do oriente
as limpam do seu fogo. No fim do trabalho,
ficam a secar, à espera que o moleiro
venha, com o seu saco de vento,
e as leve para o moinho. As mós do sonho
reduzem-nas a este farelo de luz que os poetas
põem no alguidar das palavras, para
que as musas preparem a massa
da inspiração. E enquanto espero que
o forno aqueça, olho para o céu
vazio de estrelas, onde um cometa,
com o rasto único da madrugada,
escreve o princípio do poema.
Nuno Júdice, in A matéria do poema, D. Quixote, 2008, 1ª ed., p. 123