- Olha este poema: "Aqui na Ilha, o mar, e quanto mar. Sai de si mesmo, a cada instante. Diz que sim, que não, que não. Diz que sim, em azul, em espuma, em galope. Diz que não, que não. Não pode estar quieto. Chamo-me mar, repete pegando numa pedra sem conseguir convencê-la. Então com sete línguas verdes, de sete tigres verdes, de sete cães verdes, de sete mares verdes, percorre-a, beija-a, humedece-a, e bate no peito repetindo o seu nome." - Fez uma pausa satisfeito. - O que achas?
Ilustração de Amy Weber |
- Estranho.
- "Estranho." Que crítico mais severo és tu!
- Não, Don Pablo. Estranho não é o poema. Estranho é como eu me sinto quando recitou o poema.
Antonio Skármeta, in O Carteiro de Pablo Neruda