Parece que estamos num conto dos irmãos Grimm, disse Rebecca.
O pai afastou os olhos do caminho e sorriu-lhe.
Se fosse um conto dos irmãos Grimm...
Sim.
Tu estavas na casa, no final da alameda.
Como uma princesa.
Tu és uma princesa.
Desde muito cedo que ele lhe chamava a sua princesinha. Já não era novo quando ela nascera, e a morte da mulher algum tempo depois deixara-os sozinhos. A velha casa era o seu castelo, um castelo um pouco arruinado, com cortinados de veludo a que o tempo suavizara as cores, móveis e quadros que por vezes desapareciam misteriosamente, um longo jardim onde um único jardineiro se esforçava por manter algumas plantas, as azáleas debaixo das janelas, os rododendros nas alamedas, os nenúfares nos tanques, as campânulas brancas e os narcisos no relvado.
Ilustração de ariana Kalacheva |
Ana Teresa Pereira, in O verão selvagem dos teus olhos, Relógio d'Água, 2008, 1ª ed., pp. 17-18