Ilustração de Danuta Wojciechowska |
Cultura
e religião não são a mesma coisa, mas não são separáveis, pois a
cultura nasceu dentro da religião e, embora com a evolução histórica da
Humanidade se tenha vindo a afastar parcialmente dela, sempre estará
unida à sua fonte nutritiva por uma espécie de cordão umbilical. A
religião, "enquanto dura, e no seu próprio campo, dá um sentido aparente
à vida, proporciona o enquadramento para a cultura e protege a
Humanidade no seu todo do aborrecimento e do desespero".
Quando
fala de religião, T.S. Eliot refere-se fundamentalmente ao
cristianismo, que fez, diz ele, da Europa o que é. "As nossas artes
desenvolveram-se dentro do cristianismo, as leis até há pouco tinham as
suas raízes nele e foi tendo o cristianismo como fundo que o pensamento
europeu se desenvolveu. Um europeu pode não acreditar que a fé cristã
seja verdadeira e, no entanto, aquilo que diz, acredita e faz provém da
fonte do legado cristão e depende dela o seu sentido. Só uma cultura
cristã podia ter produzido Voltaire ou Nietzsche. Eu não acredito que a
cultura da Europa pudesse sobreviver ao desaparecimento da fé cristã".
Mario Vargas Llosa, in A Civilização do Espetáculo (citando T.S.Eliot), Quetzal, pp. 14-15