Ilustração de Helen M. Waters |
_______ e volto à penumbra, para lá do bem e do mal:
“e tu como vais, Christine?”
“torno-me lentamente “une vieille femme”,
uma mulher que envelhece, uma velhinha.”
Ela dissera apenas "je deviens une vieille femme", e fora eu, sempre possuída pelo mesmo eco que amplifica, que vira imediatamente em imagem "torno-me lentamente une vieille femme, uma mulher que envelhece, uma velhinha."
Disse-lhe, a pouco e pouco, deslizando entre a minha língua e a dela: "Christine, estou sempre sobre a ruína de escrever", e ela compreendeu que eu devia estar a vê-la, pálida no tecido quase sem cor, ou sendo a sua pele, de cor perdida, o contorno da saia e da blusa;
"agora, além de saber igualmente ler e escrever, sei também brincar - não utilizo os fios para os mesmos fins." Vestia a cor evanescente dos cereais (a saia), e uma pequeníssima quantidade de cor que, ao voltar as costas para mim, me deixou no pátio; da cor, nasceu a peça de violoncelo que ela executava e, do violoncelo, a sonoridade de um sonho que ela tivera na noite seguinte ao dia em que falara comigo:
Ilustração de Mariane Seoane Pascuale |
Maria Gabriela Llansol, "Prólogo", in O Raio sobre o lápis