Ilustração de Anna Lisk |
Uma tarde de província tinha, em si, todos os defeitos que vinham de ser província. Os habitantes quase se escondiam quando os forasteiros passavam; ou, quando muito, vinham espreitá-los da janela, ou pelo canto da esquina, e fugiam se eles lhes vinham fazer alguma pergunta. Não que não soubessem a resposta, ou que não compreendessem a língua de quem lhes falava, que era a mesma que eles falavam: o que não percebiam era que houvesse um mundo fora do mundo em que viviam, e por isso se assustavam ao perceberem que, para fora do mundo deles, afinal, ainda havia outro mundo.
Nuno Júdice, "Pensão de Termas", in A Árvore dos Milagres