Misturado com aquilo que escolhemos, chega-nos o que não escolhemos e que temos, na mesma, de viver, transformando-o em oportunidade e desafio para a confiança. A primavera não tem uma linha demarcada: transborda sempre e temos de preparar-nos para isso. Ela não fica a alegrar apenas os canteiros muito bem ordenados. A sua floração inédita dá-nos o endereço da torrente, para lá da vida que pensamos domesticada pelos nossos cálculos.
Pobres de nós: achamos que conseguimos dominar completamente o mundo com os nossos cinco sentidos! Precisaríamos na verdade, de cinco mil para perceber um pequeno quinhão do que somos.
Há quanto tempo não caminhamos assobiando, ou não seguimos com um fio de erva nos lábios, sem mais, sem pressas nem pretensões, acreditando simplesmente no valor de ser e que, por isso, nos dão a possibilidade de estar, de vaguear, de medir o momento apenas com o peso e a leveza da própria marcha?