Foi com um lápis na mão que li recentemente As Pequenas Memórias, de José Saramago. Esse pequeno hábito permitiu-me registar o prazer da leitura, que o mesmo é dizer o prazer do encontro com a escrita apurada, com o detalhe, com a análise intuitiva e instintiva que me habituei a fazer. Também as anotações de caráter pessoal têm o seu lugar a lápis, nas margens do livro.
Écriture, de Cécile Bercé Busson |
Aqui fica o registo de um desses momentos, neste caso de identificação com o narrador autodiegético
(protagonista da ação) na sua aversão à raça canina.
A diferença está em eu não identificar a
causa com nenhum destrato do animal nem nunca ter tido a experiência (oxalá
sempre seja poupada a tal) de saber que algum cão se lembrará de me “saltar ao gasnete”.
O que, sim,
acontece é a minha adrenalina, na presença ou na mera proximidade de tal ser da
natureza, ser apercebida pelo suposto atacante, que deve ficar com medo de que
eu o morda e normalmente se afasta…Nesse caso, o cão deve supor, como o
narrador, que eu seria capaz de tal e, cruzando-se com os demais da raça, deve ripostar
a sua contenção dizendo-lhes: “Sabia, não
me perguntem como, mas sabia” (p. 25) que ela me iria atacar…
Ilustração de Agnès Boulloche |