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15 de abril de 2013

Domingo em casa


Ilustrações de Sun Haeng Heo



Amanhã podia ser domingo, e

não haver sol; podia ouvir os sinos e

dizer que era apenas uma ilusão; podia

descer a rua e não encontrar o homem

que vende os jornais; podia chegar

ao largo e não ver as mulheres

em grupo a caminho da igreja, onde

vai começar a missa.



Amanhã podia ser domingo,

e as ruas estarem vazias como se

não houvesse nada para fazer; podia não

ser domingo e todas as lojas

fecharem, podia não

ser domingo e alguém perguntar

o que é que se faz quando não

é domingo.



Amanhã podia ser um dia qualquer,

e não saber em que dia estou; podia

olhar para o relógio e descobrir que

os ponteiros estão parados, podia

ouvir alguém falar, e não saber de onde


vem a voz que sai da sua boca, como

se estivesse sozinho.



Ou então, podia abrir a porta e

ver que o domingo quer entrar; e

puxá-lo para dentro da casa, para


que lá fora fique sem domingo; e

sair para a rua num dia qualquer,

perguntando a quem passa

se viu passar o domingo.

Nuno Júdice, in As coisas mais simples