Ilustração de Alba Marina Rivera |
Uma história oriental conta de uma árvore solitária que se avistava no alto da montanha. Não tinha sido sempre assim. Em tempos passados, toda a montanha estivera coberta de árvores maravilhosas, altas e esguias, que os lenhadores, uma a uma, cortaram e venderam. Mas aquela árvore era torta, não podia ser transformada em tábuas... Sendo inútil aos propósitos deles, os lenhadores deixaram-na ali. Depois, vieram os caçadores de essências em busca de madeiras perfumadas, mas a árvore torta, por não ter cheiro algum, foi desprezada e, mais uma vez, deixada ali. Por ser inútil, sobreviveu. Hoje, está sozinha na montanha, avista-se ao longe naquele alto, e os viajantes suspiram por sentar-se à sua sombra.
Um amigo é como aquela árvore: vive da sua inutilidade. (...)
Um amigo é como aquela árvore. Pode até ser útil, mas não é isso que o torna um amigo.
Tolentino Mendonça, in Nenhum caminho será longo, Para uma teologia da amizade