Ilustrações de Alberto Godoy |
Sorriu, o pequeno gesto de escolher um charuto fazia-o recuar até Havana, numa vertigem.
Conhecera Glorita numa esquina. A sua beleza era hipnótica, não precisava de falar para arranjar clientes. Perfecto Cuadrado seguiu-a pela escadaria manhosa e insalubre acima, num prédio escuro e bolorento com fios elétricos pendendo das paredes, galinhas cacarejando nas varandas, um rego de água duvidosa correndo ao longo do corredor imerso na penumbra. Ele tateou o bolso das calças, assegurando-se de que trazia consigo o rolo de notas. Esquecera-se de perguntar o preço, a beleza da mulher fizera-lhe esquecer a introdução básica para início de conversa com uma prostituta. Glorita desengonçou a porta e avançou, fazendo sinal para que a seguisse. Enfeitiçado pelo seu corpo violão, pelo movimento ondulante das nádegas perfeitas, ele deixou-se conduzir até ao quarto.
Miguel Miranda (2013), in A Paixão de K, Porto Editora, 1ª ed., p. 48