Esta é uma história de infância, uma narrativa que evoca um imaginário inocente, afável, dos primeiros textos lidos. Ainda assim...
Ilustração de Yihang Pan |
Todos os anos, quando os velhos Reis Magos acabam de
atravessar a pequena estrada de areia que se esboça entre caminhos de musgo e
lagos feitos de bocados de espelho partido; quando a estrela de prata que se
suspende entre os dois exemplares de “A Paleta e o Mundo” de Mário Dionísio se
recolhe para regressar à velha caixa de papelão, com trinta anos de viagens,
cheia de bocados de jornal amachucados que ainda guardam notícias de dias que já
foram e onde se embrulham os cordeirinhos, os pastores, as oferendas várias que
o Menino Jesus recebeu, apesar de já lhe faltar a mãozinha direita que alguém
partiu em excesso de limpeza; todos os anos, dizia, recordo a história que o
Fernando Midões me contou, certa tarde em que misturámos poemas com
lágrimas.