O tempo de
ler associa-se ao tempo de lazer mas também ao não tempo, que é o tempo de
Deus. O tempo do inútil, do “desútil”, como refere o poeta brasileiro Manoel de
Barros, ou seja, de um tempo mais para ser do que para fazer, um tempo por
vezes difícil de encontrar e de nos concedermos mas que, quando no-lo
concedemos, nos amplia o olhar e o coração, cava o silêncio que germina em nós
e nos purifica. Ler é, pois, também ler-nos, ler a nossa própria história, quer
por identificação quer por contraste com personagens, vivências, locais, cores,
culturas, aromas, civilizações, hábitos e costumes. O tempo e o espaço
transportam-nos para outros lugares e para lugar nenhum, para a utopia, o
sonho, a irrealidade, um espaço de liberdade e de imaginação, espaço de
narrativas que nos oferecem um tempo gratuito, de fruição ou de aprendizagem.
De encontro ou de ilusão. De simpatia ou de transporte para outras realidades
diferentes das do quotidiano.
Os livros são
ponte para a “teologia da inutilidade”, de que
nos fala Tolentino Mendonça, para o lugar da estética, da poesia, da
reflexão, do sem porquê, como a rosa ou o brinquedo.,
Maria Carla Crespo