Assim,
o que um poeta
faz com
as palavras, ao
tocá-las
com os dedos,
não é
só
ou o
pintor com as cores.
As
palavras,
cuja
composição espessa cimenta
o
cérebro e lhe dá peso,
não se
reduzem às matérias visual
e
acústica respectiva-
mente
da cor e do som.
A queda
desamparada
do
sentido para dentro de um
pequeno
espaço de escrita,
assim
como a súbita relação
estabelecida
entre esse facto
e a
minha consciência dele, desde logo
ampliam
o horizonte expressivo
do
poema.
E se o
raciocínio e o gesto, em parte,
não entram nele,
não
quer isto dizer que uma (outra)
razão,
talvez mais profunda,
o
inspire e penetre.
É que
ela não se manifesta
expressamente
pois, pelo contrário,
só no
seu aspecto oculto
e
“longínquo” se revela
-
imediatamente -
o
Poético.
Nuno Júdice