Ilustração de Maarit Ailio |
E disse:
— Senhor, como estás longe e oculto e presente! Oiço apenas o ressoar do teu silêncio que avança para mim e a minha vida apenas toca a franja límpida da tua ausência. Fito em meu redor a solenidade das coisas como quem tenta decifrar uma escrita difícil. Mas és tu que me lês e me conheces. Faz que nada do meu ser se esconda. Chama à tua claridade a totalidade do meu ser para que o meu pensamento se torne transparente e possa escutar a palavra que desde sempre me dizes.
Sophia de Mello Breyner Andresen, "Os três reis do Oriente", in Contos Exemplares, Figueirinhas, 2006, 36ª ed., pp. 147-148