dos teus cabelos, desenho lentamente os traços do
teu rosto. O meu objectivo é recortá-lo do papel
e ver-te à transparência da página, limpando
de vogais as tuas faces. Ponho-te neste retrato
de olhos fechados, e colho dos teus lábios
as pétalas que caíram com as sílabas
do amor, para as voltar a pousar nas mãos
que me estendes. Depois, vou buscar a luz
que me falta ao fundo da tarde, e derramo-a
pelo teu corpo, vendo soltarem-se da tua pele
as gotas primaveris de um céu límpido
como a imagem que aqui vejo florescer.
Nuno Júdice, in Fórmulas de uma luz inexplicável