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22 de julho de 2013

Paul Celan, antes de atravessar a ponte Mirabeau

Ilustração de Mike Worrall

Se um quarto se pode abrir para o sonho,
quando a noite é pesada e o barulho da chuva entra
pela janela, já o sonho não se abre para quem não
dorme, enrolado na insónia como num velho 
cobertor. Então, o que passa pela cabeça são
os pensamentos que não se deveriam ter. Mas 
a noite é assim: não faz distinção entre quem
dorme e quem está acordado; e o barulho da chuva
aumenta, com o vento, trazendo o que está
fora do quarto para dentro do quarto, e obriga
quem não dorme a agarrar-se ao cobertor, como
se fosse a última bóia no naufrágio da noite.


Nuno Júdice, in Fórmulas de uma luz inexplicável, D. Quixote, 2012, 2ª ed., p. 69

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