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Ilustração de Monique
Passicot
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... ler Literatura não obedece aos mesmos esquemas mentais (e culturais) da
leitura de um qualquer outro tipo de texto ou obra. Muito menos se se tratar de
um jornal ou revista. O verdadeiro acto de ler (literatura) é por excelência um
acto pessoal, criativo, vivo. Não é um acto passivo, maquinal, repetitivo…É um
mergulho no interior do texto que acaba por nos tocar e inundar a nossa
sensibilidade e ideias. A partir daqui, deste mergulho nas palavras e no ritmo
das ideias e das situações, temos o prazer de exercitar a nossa imaginação e
sensibilidade – que podem ser manifestadas num comentário pessoal, por escrito,
ou até numa simples recriação. Se me afasto do mundo (das pessoas e das coisas)
quando leio, porque ler requer isolamento e silêncio, ganho depois um pouco
mais de uma outra consciência acerca desse mundo, de mim e dos outros. É
justamente por isto que ler é um acto insubstituível. Ninguém, em rigor, pode
ler por nós. É como dar mergulhos num rio ou numa piscina: já alguma vez alguém
aprendeu a nadar por correspondência?
Martins, Francisco, in Ao encontro de Aparição – em torno de
Vergílio Ferreira, Lisboa, Asa, 1999