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12 de janeiro de 2014

As gaivotas

Ilustração de Alice Tams 


As gaivotas. Vão e vêm. Entram

pela pupila.

Devagar, também os barcos entram.

Por fim o mar.

Não tardará a fadiga da alma.

De tanto olhar, tanto

olhar.

Eugénio de Andrade, in Rente ao dizer

O olhar

Ilustração de Claude Theberge

Eu sentia seus olhos beber os meus;

longamente bebiam, bebiam;

bebiam

até não me restar nas órbitas nenhuma

luz, nenhuma água,

nem sequer o sinal de neles ter chovido

naquele inverno.

Eugénio de Andrade, in Rente ao Dizer

1 de outubro de 2012

Outubro: o vinho



Poucas vezes o outono se demorou
tanto nestas águas
sem as cobrir de névoa.
Dos montes desce
o vinho - não tardará nas ruas:
só ele é novo ainda, só
ele dança. Tu e eu
Ilustração de Mihai Criste
vamos com as folhas, as últimas 
aves: tão leve
o que deixamos por herança.

Eugénio de Andrade, in Rente ao dizer

4 de agosto de 2012

Cheiro do verão

Quem me traz morangos não sabe
Bastin Marjolein
que também me traz
um punhado
desses tão delicados e carnais
frutos silvestres
que os garotos de Roma vendem
pelas ruas, sorrindo, ao fim da tarde.
Só eles me trazem juntos a sombra
dos bosques do verão
e o canto do rouxinol
na frescura da sua pele.


Eugénio de Andrade, in Rente ao dizer