Ilustração de Mariana Kalacheva |
Somos as pontas de uma mesma fita
e acordamos atados de manhã num
nó que ainda demora a desfazer. Ao
levantar-me, arrasto-te comigo, mas
no resto da vida é ao contrário - e eu
nem me importo que me leves atrás
se o laço for contigo, e apertado. Mas,
quando calha, é mais comprida a fita; e
eu - inquieta, sem saber onde estás - fico
a contar os metros, aflita, e a magicar em
franzidos e embaraços. Eis senão quando
tu apareces amarrotado de cansaço e nos
meus braços logo te desfias. Vencido
o susto, passa-se a fita a ferro - para
se enredar de novo num nó cego que
de manhã vai ser um custo desatar.
Maria do Rosário Pedreira, in Poesia Reunida, Quetzal poesia, 2012, 1ª ed., p. 242
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