Ilustração de Julia Icenogle |
São tristes as aves que viajam na
memória do vento, tristes os olhos
que se demoram no gargalo de um
poço. E eu sou triste de não saber
que nome te pôs a morte quando
ontem te deitou na sua cama, e te
soprou nos cabelos o seu hálito frio,
e te embalou às escuras com uma
canção de vidro em que as aves se
enamoravam das próprias sombras
e, procurando-se em vão nas águas
turvas de um poço, não sabiam que
apenas mergulhavam lentamente, muito
lentamente, na memória do vento.
Maria do Rosário Pedreira, in Poesia Reunida, Quetzal poesia, 2012, 1ª ed., p. 207
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