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31 de julho de 2012

Se o vento vier

 
Ilustração de Noriko Senshu



De repente, sem saber por onde entrara, eu tinha a lua comigo. Não era a primeira vez, não, não era. A primeira vez havia sido há muitos anos: adormecera na eira sobre o feno, e quando acordei a lua estava a meu lado e fizera da noite um interminável e azul lago de prata. Eu flutuava no luar espesso, pesava menos que uma folha de papel. Todo o esforço que fazia era para não me desprender do solo, como se a acção da gravidade não me dissesse respeito, e flutuar no espaço fosse a minha vocação. Se o vento vier, não tenho mais remédio que abandonar-me e ver até onde me levam os seus espíritos.

Eugénio de Andrade, in Vertentes do olhar

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