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30 de janeiro de 2016

Saudades


Ilustração de Claire Mojher

Não tenho saudades de mim, não tenho saudades de nada: amanhã é o dia de hoje.


Vergílio Ferreira, in Aparição, Bertrand, 2000, 54ªed., p. 145

29 de janeiro de 2016

A escrita perpetua a existência

Ilustração de Raquel Marin Bo

Escrevo para ser, escrevo para segurar nas minhas mãos inábeis o que fulgurou e morreu.

 Vergílio Ferreira, in Aparição, Bertrand, 2000, 54ªed., p. 193

28 de janeiro de 2016

Desejo de escrever

 
Ilustração de Stephanie Graegin

...o que me excita a escrever é o desejo de me esclarecer na posse disto que conto...


 Vergílio Ferreira, in Aparição, Bertrand, 2000, 54ªed., p. 193

26 de janeiro de 2016

O tempo e a rosa



 
Ilustração de Joanna Pasek


Foi o tempo que perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante.

Saint-Exupéry, in O Principezinho

20 de janeiro de 2016

Variação sobre rosas

Como as rosas selvagens, que nascem
em qualquer canto, o amor também pode nascer
de onde menos esperamos. O seu campo
é infinito: alma e corpo. E, para além deles,
o mundo das sensações, onde se entra sem
bater à porta, como se esta porta estivesse sempre
aberta para quem quiser entrar. 



Ilustração de Kristian Adam
Tu, que me ensinas o que é o
amor, colheste essas rosas selvagens: a sua
púrpura brilha no teu rosto. O seu perfume
corre-te pelo peito, derrama-se no estuário
do ventre, sobe até aos cabelos que se soltam
por entre a brisa dos murmúrios. Roubo aos teus
lábios as suas pétalas.

E se essas rosas não murcham, com
o tempo, é porque o amor as alimenta. 



                                                   Nuno Júdice, in Pedro, lembrando Inês, Dom Quixote, 2001, p.11
 

17 de janeiro de 2016

Os poetas

 
Ilustração de Nicoletta Ceccoli



...os poetas são melhores a inventar
do que a viver



José Jorge Letria, in "Poema para uma mãe que parte"

15 de janeiro de 2016

Misturados com a vida

Ilustração de April Duke  

Ninguém nos pode incomodar quando estamos quietos no lugar onde vivemos, onde sonhamos, de onde saímos para a rua misturados com a vida de todos os dias.

José Jorge Letria, in A vida segundo Goya, Guerra e Paz, 2015, p. 40

14 de janeiro de 2016

Quem és tu?


Ilustração de Mila Gablasova

Se alguém quiser saber quem eu sou, regresso à memória dos livros que li (…) e respondo como o romeiro de Frei Luís de Sousa: “Ninguém”.



              José Jorge Letria, in Coração sem abrigo

Criança abandonada


Ilustração de Mila Gablasova


E que hei-de agora fazer com esta criança acabada de abandonar num contentor de lixo e que podia ser meu filho ou meu neto?

 
José Jorge Letria, in Coração sem abrigo

13 de janeiro de 2016

Velhice

Ilustração de Victo Ngai






A velhice é outra forma de contar o tempo.


José Jorge Letria, in A vida segundo Goya
Guerra e Paz, 2015, p. 139

12 de janeiro de 2016

A porta do sonho


 
Ilustração de Claire Mojher
 

Quando queremos sonhar, aqueles de quem gostamos são a porta que se abre para o território da vida a transformar-se.

José Jorge Letria, in A vida segundo Goya, Guerra e Paz, 2015, p. 17

8 de janeiro de 2016

Quando eu for pequeno

Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono. 



Ilustração de Juana Martinez-Neal

Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.

Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar. 


 
Ilustração de Olivier Tallec


Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço branco na mão com as iniciais bordadas,
anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.



(...)                                                         
José Jorge Letria, Cascais, 1951

7 de janeiro de 2016

Assim às vezes nos sonhos

Ilustração de Hilsaca Castro


A multidão não parava de passar. Era o centro do centro da cidade. O homem estava sozinho, sozinho. Rios de gente passavam sem o ver.
Só eu tinha parado, mas inutilmente. O homem não me olhava. Quis fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Era como se a sua solidão estivesse para além de todos os meus gestos, como se ela o envolvesse e o separasse de mim e fosse tarde de mais para qualquer palavra e já nada tivesse remédio. Era como se eu tivesse as mãos atadas. Assim às vezes nos sonhos queremos agir e não podemos.

 
 
Sophia de Mello Breyner Andresen, "O Homem" in Contos Exemplares
Figueirinhas, 2006, 36ªed., p. 138

6 de janeiro de 2016

Dia de Reis


Ilustração de Jan Pashley
Gaspar respondeu:

- Não posso adorar o poder dos ídolos. O meu deus é outro e creio no seu advento, que a Terra e o Céu me anunciam.

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Os três reis do Oriente" in Contos Exemplares, 
 Figueirinhas, 2006, 36ªed., p. 146

4 de janeiro de 2016

O que lá não está


 
Ilustração de Ian Dale
O poema não se refere àquilo que é, mas sim àquilo que não é. Pois a natureza é uma caixa cheia de coisas da qual o poeta extrai uma coisa que lá não está. 
(...) 
- Num poema não devemos buscar sentido, pois o poema é ele próprio o seu próprio sentido. Assim o sentido de uma rosa é apenas essa própria rosa.



Sophia de Mello Breyner Andresen, "Os três reis do Oriente" in Contos Exemplares
Figueirinhas, 2006, 36ªed., p. 155

3 de janeiro de 2016

Não é o que parece

 
Ilustração de Shae Syu


- A poesia não se exprime directamente. Ora o texto que temos em nossa frente é um poema e por isso mesmo deve ser tomado como uma metáfora que não se refere nem ao passado nem ao presente nem ao futuro do mundo em que vivemos, mas só ao mundo interior do poeta, que é o mundo da poesia sempre voltado para o devir e para a esperança. Este texto não fala de factos reais e apenas simboliza o espírito criador do homem.  


Sophia de Mello Breyner Andresen, "Os três reis do Oriente" in Contos Exemplares
Figueirinhas, 2006, 36ªed., p. 154