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21 de março de 2015

A poesia clássica

Ilustração de Pinwheel Bunny 

Esvazio uma colheita de estrelas na eira

do infinito, onde as velhas deusas do oriente

as limpam do seu fogo. No fim do trabalho,

ficam a secar, à espera que o moleiro

venha, com o seu saco de vento,

e as leve para o moinho. As mós do sonho

reduzem-nas a este farelo de luz que os poetas

põem no alguidar das palavras, para

que as musas preparem a massa

da inspiração. E enquanto espero que

o forno aqueça, olho para o céu

vazio de estrelas, onde um cometa,

com o rasto único da madrugada,

escreve o princípio do poema.


Nuno Júdice, in A matéria do poema, D. Quixote, 2008, 1ª ed., p. 123