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18 de abril de 2014

Trevas

Ilustração de Laimonas Smergelis


O que foi antigamente manhã limpa
Sereno amor das coisas e da vida
É hoje busca desesperada busca
De um corpo cuja face me é oculta.


Sophia de Mello Breyner Andresen,  "Cristo Cigano" in Obra Poética, Caminho, 2011, 2ª ed., p. 374

Pôr do sol na Boa Nova

Ilustração de Laimonas Smergelis




Mar alma na tarde morta
que cortas dedos na luz
abro-me todo: sou porta
que só contigo transpus



Ruy Belo, in Todos os poemas, Assírio&Alvim, 2000, p. 70

Fé e poesia

Ilustração de Laimonas Smergelis


A fé alimenta-se muito daquela pobreza extrema, esse modo pobre que é a poesia. No fundo, o estar sempre a começar. Cada poema é um início. Como o estar sempre perante o branco, perante o silêncio, perante o não saber. E recomeçar. A fé alimenta-se muito disso, porque a fé não é o acumulado do ontem, mas é viver no aberto da esperança e do corpo, do nascer e do morrer, do amor e da fragilidade. E no fundo a escrita treina-me para a sucessão de começos que a vida é nas suas várias dimensões.


Tolentino Mendonça, in "Estante", Fnac, nº 1, primavera 2014, p. 23