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31 de outubro de 2014

Romeu e Julieta

Ilustração de Gabriela Andrade

Romeu da Baviera era duque; Julieta apenas bela. Como muitas vezes, o poder ajoelhou-se frente à beleza; como sempre, a beleza fingiu resistir, mas logo se rendeu.

Gonçalo M. Tavares, A História de Julieta, a santa da Baviera, in Histórias Falsas, Caminho, 2014, 7ª ed., p. 15

28 de outubro de 2014

A Bíblia é para comer

Ilustração de Fabián Rivas

Literalmente, a Bíblia é para comer.


José Tolentino Mendonça, in A mística do Instante - o tempo e a promessa, Ed. Paulinas, 2014, 1ª ed., p. 85

25 de outubro de 2014

São piores os homens que os corvos

Ilustração de Debi Hubbs

São piores os homens que os corvos. O triste que foi à forca, não o comem os corvos senão depois de executado e morto; e o que anda em juízo, ainda não está executado nem sentenciado e já está comido. 


Pe. António Vieira, Sermão de Santo António aos peixes

24 de outubro de 2014

Corvos

Ilustração de Debi Hubbs




Eu gosto de corvos. São pássaros anunciadores, transmitem-me premonições. Já não aprecio homens-corvo, não sei bem porquê. São arautos de desgraça.



Miguel Miranda, in Dai-lhes, Senhor, o eterno repouso, Porto Editora, 2011, 1ª ed., p. 30

23 de outubro de 2014

Cabeça em ovo de avestruz

Ilustração de Victoria Kirdy


O senhor Ruela, o vendedor e putativo dono do estabelecimento, era um homem com cabeça em ovo de avestruz, que falava sem mover os lábios, como um ventríloquo.




Miguel Miranda, in Dai-lhes, Senhor, o eterno repouso, Porto Editora, 2011, 1ª ed., p. 12-13

22 de outubro de 2014

Bilhete de identidade


Ilustração de Patrick Gonzales 

Os dedos da mão fornecem mais informações do que o bilhete de identidade, podendo revelar a idade, a profissão, a saúde ou doença do portador.

Miguel Miranda, in Dai-lhes, Senhor, o eterno repouso, Porto Editora, 2011, 1ª ed., p. 31

O maravilhoso não escurece

Ilustração de Andy Kehoe



Quando a noite chega o maravilhoso não escurece.



Gonçalo M. Tavares, in 1, Relógio d' Água, 20122, 2ª ed., p. 192

21 de outubro de 2014

Arquitecto

Ilustração de Regina Lukk-Toompere 

Depois da arquitectura


           
                Deslocou-se para o invulgar:



fundou um poema


        
Gonçalo M. Tavares, in 1, Relógio d' Água, 20122, 2ª ed., p. 82

20 de outubro de 2014

Dois mundos

Ilustração de Regina Lukk-Toompere



Repara, são dois mundos:

Não é possível atirar água

à matemática.




Gonçalo M. Tavares, in 1, Relógio d' Água, 20122, 2ª ed., p. 73

19 de outubro de 2014

Braille

Ilustração de Keiko Shibata 



Leio o amor no livro
da tua pele; demoro-me em cada
sílaba, no sulco macio
das vogais, num breve obstáculo
de consoantes, em que os meus dedos
penetram, até chegarem
ao fundo dos sentidos. Desfolho
as páginas que o teu desejo me abre,
ouvindo o murmúrio de um roçar

de palavras que se
juntam, como corpos,
no abraço

de cada frase. E chego ao fim 
para voltar ao princípio, decorando
o que já sei, e é sempre novo
quando o leio na tua pele.


Nuno Júdice, in Geometria variável, D. Quixote, 2005, 1ª ed., p. 79

16 de outubro de 2014

Gritar a rotina


Ilustração de Fabio Rex

A rotina não basta ao coração do homem.


José Tolentino Mendonça, "Do lado do aprisionamento da vida pela rotina" in A mística do Instante - o tempo e a promessa, Ed. Paulinas, 2014, 1ª ed., p. 22

15 de outubro de 2014

Da rotina à surpresa

Ilustração de Julie Paschkis

As rotinas têm um efeito saudável: tornando o quotidiano um encadeado de situações expectáveis, permitem-nos habitar com confiança o tempo. Mas (...) quando tudo se torna óbvio e regulado, deixa de haver lugar para a surpresa. (...) Os nossos olhos sonolentos veem tudo como repetido.

José Tolentino Mendonça, "Do lado do aprisionamento da vida pela rotina" in A mística do Instante - o tempo e a promessa, Ed. Paulinas, 2014, 1ª ed., pp. 21-22

14 de outubro de 2014

Catedral de aromas

Ilustração de Dani Torrent

Por mais que isso seja dez mil vezes mais prático, passar pela frutaria do inodoro hipermercado não é a mesma coisa que atravessar a catedral de aromas de um pomar.

José Tolentino Mendonça, "Do lado do excesso de comunicação" in A mística do Instante - o tempo e a promessa, Ed. Paulinas, 2014, 1ª ed., p. 23

13 de outubro de 2014

Arte do desejo

Ilustração de Alicia Arlandis


O excelente pedagogo que foi Rubem Alves costumava dizer que , "para entrar numa escola, alunos e professores deveriam passar antes por uma cozinha" e aprender que a sabedoria, tal como o paladar, é uma arte do desejo.


José Tolentino Mendonça, "Regressar ao paladar" in A mística do Instante - o tempo e a promessa, Ed. Paulinas, 2014, 1ª ed., pp. 27-28

12 de outubro de 2014

Regressar ao paladar

Ilustração de Amber Alexander

Não é de estranhar a ligação essencial que se costura entre saber e sabor, que a própria etimologia latina confirma (sapere, sapore).

José Tolentino Mendonça, "Regressar ao paladar" in A mística do Instante - o tempo e a promessa, Ed. Paulinas, 2014, 1ª ed., p. 27

10 de outubro de 2014

Fotografia branca

Ilustração de Patrícia Metola


Vejo esta situação, com a nitidez do fotógrafo:
a cabeça pousada na mão direita, um cigarro
preso aos dedos, o olhar perdido em quase
nada. Invento a imagem que se forma
na tua cabeça, a partir desse nada: uma
nuvem; e por dentro dessa nuvem, todas
as formas do sonho. Porém, o céu não
te perturba o pensamento; nem os ventos
que trazem e levam as nuvens, como
barcos, no oceano da tua memória. E
volto à situação inicial: tu, sentada à
mesa, para que eu te pudesse fixar
com a nitidez do fotógrafo, olhas-me,
como se eu estivesse à tua frente; e
o teu olhar apaga o tempo e a distância,
desfocando a imagem, como se o fumo
do cigarro te envolvesse o rosto, e
te trouxesse de volta a mim, como
nuvem, ou sonho, que o vento dissipa.


Nuno Júdice, in As coisas mais simples, D. Quixote, 2007, 2ª ed.,p. 27

8 de outubro de 2014

Chuva ou choro?


Ilustração de Iwasaki Chihiro


Não consigo chorar. Bendita chuva, que chora por mim.


Miguel Miranda, in A paixão de K, Porto Editora, 2013, 1ª ed., p. 42

6 de outubro de 2014

Lágrimas em autogestão

Ilustração de Eun Young Choi

A chuva são lágrimas em autogestão.

Miguel Miranda, in A paixão de K, Porto Editora, 2013, 1ª ed., p. 42







4 de outubro de 2014

Quando o tempo pára


Ilustração de Ofra Amit



Todos os relógios de Havana devem ter parado enquanto durou o beijo abocanhado dos amantes.


Miguel Miranda, in A paixão de K, Porto Editora, 2013, 1ª ed., p.49

A respiração dos bosques

Ilustração de Teagan White


A respiração dos bosques tinha algo de feminino, espraiando-se lânguida sobre os campos. Os murmúrios de pássaros e folhagens eram suaves promessas incumpridas roçagando na pele e o som da água nas levadas era um riso cristalino de mulher.



Miguel Miranda, in A paixão de K, Porto Editora, 2013, 1ª ed., p. 133


2 de outubro de 2014

Livro e personalidade

Ilustração de Cosei Kawa 


Uma mão é um livro aberto sobre a personalidade do portador. 


Miguel Miranda, in Dai-lhes, Senhor, o eterno repouso, Porto Editora, 2011, 1ª ed., p.31