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5 de janeiro de 2013

Baltasar

Ilustração de Georges Underwood
O rei Baltasar amava a frescura dos jardins e sorria ao ver na água clara dos tanques o reflexo da sua cor de ébano. (...)

A estrela ergueu-se muito devagar sobre o Céu, a Oriente. O seu movimento era quase imperceptível. Parecia estar muito perto da terra. Deslizava em silêncio, sem que nem uma folha se agitasse. Vinha desde sempre. Mostrava a alegria, a alegria nua, sem falha, o vestido sem costura da alegria, a substância imortal da alegria.

E Baltasar reconheceu-a logo, porque ela não podia ser de outra maneira.


Sophia de Mello Breyner Andresen, "Os três reis do Oriente, in Contos Exemplares

Melchior

Ilustração de Ines Huni
 Nessa noite (...), Melchior subiu ao terraço e viu que havia no céu, a Oriente, uma nova estrela.
A cidade dormia, escura e silenciosa, enrolada em ruelas e confusas escadas. Na grande avenida dos templos já ninguém caminhava. (...)

E sobre o mundo do sono, sobre a sombra intrincada dos sonhos onde os homens se perdiam tacteando, como num labirinto espesso, húmido e movediço, a estrela acendia, jovem, trémula e deslumbrada, a sua alegria.

E Melchior deixou o seu palácio nessa noite.

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Os três reis do Oriente, in Contos Exemplares

Gaspar e a justiça

Ilustração de Rosario Elizalde

...Gaspar escutava o crescer do tempo. A solidão criava em seu redor um transparente espaço de limpidez onde os instantes avançavam um por um e o universo inteiro parecia atento. O silêncio era como a mesma palavra inumeravelmente repetida.

E debruçado sobre o tempo Gaspar pensava: "Que pode crescer dentro do tempo senão a justiça?"

Sophia de Mello Breyner Andresen, "Os três reis do Oriente", in Contos Exemplares