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25 de outubro de 2012

Paisagens de inverno II

Ilustração de Lucio Lopez Cansuet-Kansuet

Passou o Outono já, já torna o frio... 
– Outono de seu riso magoado. 
Álgido inverno! Oblíquo o sol, gelado... 
– O sol, e as águas límpidas do rio.

Águas claras do rio! Águas do rio, 
Fugindo sob o meu olhar cansado, 
Para onde me levais meu vão cuidado? 
Aonde vais, meu coração vazio?

Ficai, cabelos dela, flutuando, 
E, debaixo das águas fugidias, 
Os seus olhos abertos e cismando...

Onde ides a correr, melancolias? 
– E, refractadas, longamente ondeando, 
As suas mãos translúcidas e frias...

Camilo Pessanha, "Paisagens de inverno II", in Clepsidra

Caminho

Tenho sonhos cruéis; n'alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente...

Saudades desta dor que em vão procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum véu escuro!...  


Ilustração de Artisalma Deviantart










                         



Porque a dor, esta falta d’harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o céu d’agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque é só madrugada quando chora.


Camilo Pessanha, in Clepsidra

Inscrição

Ilustração de Eric Zener
Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme(1).
Oh! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um verme...


 Camilo Pessanha, in Clepsidra

 (1) indefesa