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19 de outubro de 2012

Carta a Mário Cesariny no dia da sua morte

Ilustração de Ray Bradbury

Hoje soube-se uma coisa extraordinária,
que morreste; talvez já to tenham dito,
embora o caso verdadeiramente não
te diga respeito, e seja assunto nosso, vivo.

Algo, de facto, deve ter acontecido
porque nada acontece, a não ser o costume,
amor e estrume, quanto ao resto
tudo prossegue de acordo com o Plano.

Há apenas agora um buraco aqui,
não sei onde, uma espécie de
falta de alguma coisa insolente e amável,
de qualquer modo, aliás, altamente improvável.  

Depois, de gato para baixo, mortos
(lembrei-me disto de repente
agora que voltaste malevolamente a ti)
estamos todos. A gente vê-se um dia destes por Aí.


26/11/2006
 
Manuel António Pina, in Como se desenha uma casa

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