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31 de março de 2012

E por vezes


Ilustração de Charlie Bearman
E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
Nunca mais são os mesmos. E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a vida nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto dos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se evolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira

30 de março de 2012

Poesia

Ilustração de Gooroovoo



A poesia é a minha explicação com o universo, a minha convivência com as coisas, a minha participação no real, o meu encontro com as vozes e as imagens. Por isso o poema não fala duma vida ideal mas duma vida concreta: ângulo da janela, ressonância das ruas, das cidades e dos quartos, sombra dos muros, aparição dos rostos, silêncio, distância e brilho das estrelas, respiração da noite, perfume da tília e do orégão.

Sophia de Mello Breyner Andresen

29 de março de 2012

O ilustrador de livros

Ilustração de Rita Cardelli
No princípio era o branco
A terra que as palavras
Cederam ao autor
O pintor leu o fogo
A cabra a ovelha e o corvo
O poeta em bicicleta
Pedalando pelo ar
E atiçou-os no branco
E tingiu-os devagar
Agora o livro é mas o branco escorre ainda
Pelos caminhos dessa imagem
Sulcada pelo olhar

                                                     João Pedro Mésseder

Quase nada

Ilustração de Eugenia Gapchinska
O amor
é uma ave a tremer
nas mãos duma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.

Eugénio de Andrade

28 de março de 2012

As mãos e os frutos

Ilustração de Vladimir Olenberg



V

Nos teus dedos nasceram horizontes
e aves verdes vieram desvairadas
beber neles julgando serem fontes.


Eugénio de Andrade

26 de março de 2012

Madrigal

Klimt, O Beijo






Tu tinhas um nome, e eu não sei
se eras fonte ou brisa ou mar ou flor.
Nos meus versos chamar-te-ei amor.

Eugénio de Andrade

Foi para ti que criei as rosas

Ilustração de Karla Gudeon
Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
E dei às romãs a cor do lume.


Foi para ti que pus no céu a lua
e o verde mais verde dos pinhais.
Foi para ti que deitei no chão
Um corpo aberto como os animais.


Eugénio de Andrade in As mãos e os frutos

A Figueira

Ilustração de Eugenia Gapchinska
Não tenho mãos para o azul.
Sonho com o mar
que não está longe mas não vejo
arder.
Só a sombra parece estar em casa
debaixo dos meus ramos:
canta baixinho enquanto se descalça.

Eugénio de Andrade, in Com o sol em cada sílaba 

25 de março de 2012

Liberdade


Ilustração de Marie Cardouat

O poema é
A liberdade

Um poema não se programa
Porém a disciplina
— Sílaba por sílaba —
O acompanha

Sílaba por sílaba
O poema emerge
— Como se os deuses o dessem
O fazemos
                                    

    Sophia de Mello Breyner Andresen

24 de março de 2012

O jardim da minha vida

Ilustração de Claire Barone
Havia ainda outro jardim o da minha vida
exíguo é certo mas o do meu olhar
são talvez dois pássaros que se amam
um sobre o outro ou dois cães de pé
é sempre a mesma inquietação

este delírio branco ou o rumor
da chuva sobre flancos e barcos
o inverno vai chegar
sobre a palha ainda quente a mão
uma doçura de abelha muito jovem

era o sopro distante das manhãs sobre o mar
e eu disse sentindo os seus passos nos pátios do
coração
é o silêncio e por fim o silêncio
vai desabar

Eugénio de Andrade,Sobre Flancos e Barcos (Véspera de água)

23 de março de 2012

Aniversário

Ilustração de Graham Franciose
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa como uma religião qualquer.
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.
Sim, o que fui de suposto a mim mesmo,
O que fui de coração e parentesco,
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino.
O que fui - ai meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!
O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa.
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio...
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!
Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas - doces, frutas, o resto na sombra debaixo do alçado -,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Para, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...

Álvaro de Campos, Poesias

22 de março de 2012

Endzeit

Atrás de ti o caminho luminoso
como se o abismo tivesse uma cabeleira branca

Tolentino Mendonça


Ilustração de Virginia Lee

Primavera

Ilustração de Charlotte Gastaut



a face breve
enuncia o esplendor


Tolentino Mendonça, in A Noite abre Meus Olhos

21 de março de 2012

O poema

Ilustração de Ole Sigurd Walla
O poema é um exercício de dissidência, uma profissão de incredulidade na omnipotência do visível, do estável, do apreendido. O poema é uma forma de apostasia. Não há poema verdadeiro que não torne o sujeito um foragido. O poema obriga a pernoitar na solidão dos bosques, em campos nevados, por orlas intactas. Que outra verdade existe no mundo para lá daquela que não pertence a este mundo? O poema não busca o inexprimível: não há piedoso que, na agitação da sua piedade, não o procure. O poema devolve o inexprimível. O poema não alcança aquela pureza que fascina o mundo. O poema abraça precisamente aquela impureza que o mundo repudia.

Tolentino Mendonça

Poesia


Ilustração de Andrei Zadorine
No armazém onde apodreciam as batatas, com o cheiro

a terra e raticida dos velhos sacos de estopa, sentei-me

a ler romances de capa e espada nas tardes de calor. Ali,

uma obscuridade de pedra e madeira protegia-me da

luz; um longínquo ruído de cigarras misturava-se

ao voo monótono de sombrios besouros; e do papel

envelhecido dos livros saía o furor de uma paixão que
só nos romances existia. Ah!, em que alcovas secretas

se encontravam os heróis antigos? Que sedas e

cortinas davam acesso a corpos exaustos? Que

ácidas frases traíam decepções de amor? É que

o tempo era feito, então, de tardes sem fim, num
Ilustração de Graham Franciose

tédio solar, multiplicado pela brancura monótona

do horizonte, como se o próprio céu cobrisse a vida

com a sua mortalha luminosa. O romance

chegava ao fim demasiado depressa; os maus

morriam e os bons ganhavam com excessiva facilidade;
a última página não passava de um tímido abraço de

amantes, calando o que viria para além disso. Então, fechando

o livro, dava-se por que a tarde entrava no declínio;

já não se ouviam cigarras, e os besouros escondiam-se
Ilustração de Kirill Chelushkin
nalguma trave do tecto. Sob os sacos, por entre fardos

de palha e peças de máquina, os fantasmas começavam

a acordar. Era o que esse tempo tinha para dar: nem

luz nem treva, nem morte nem vida. Os minutos de

hesitação entre o fim de um livro e o princípio da noite;

e o abrir da porta para o quintal, onde um vento quente

se metia por dentro da lenha já pronta para o forno do pão.

                                                         Nuno Júdice, in Teoria Geral do Sentimento, 1999




O Poético

Nuno Júdice é mestre em dizer poesia, dizer a poesia e dizer o que é a poesia.

Eis a revelação poética:


"Texto para uso didáctico"


Assim, o que um poeta

faz com as palavras, ao

tocá-las com os dedos,

não é só

o que o músico faz com os sons

ou o pintor com as cores.

As palavras,
cuja composição espessa cimenta

o cérebro e lhe dá peso,

não se reduzem às matérias visual

e acústica respectiva-

mente da cor e do som.

A queda desamparada

do sentido para dentro de um
pequeno espaço de escrita,

assim como a súbita relação

estabelecida entre esse facto 

e a minha consciência dele, desde logo

ampliam o horizonte expressivo
Ilustrações de Graham Franciose

do poema.

E se o raciocínio e o gesto, em parte,


o entram nele,

não quer isto dizer que uma (outra)
razão, talvez mais profunda,

o inspire e penetre.

É que ela não se manifesta

expressamente pois, pelo contrário,

só no seu aspecto oculto

e “longínquo” se revela

- imediatamente -

o Poético.       

Nuno Júdice

20 de março de 2012

A andorinha Sinhá

Ilustração de Anna Silivonchik, pormenor
"Quando ela passava, risonha e trêfega, não havia pássaro em idade casadoira que não suspirasse. Era muito jovem ainda, mas, onde quer que estivesse, logo a cercavam todos os moços do parque. Faziam-lhe declarações, escreviam-lhe poemas, o Rouxinol, seresteiro afamado, vinha ao clarão da lua cantar à sua janela. Ela ria para todos, com todos se dando, não amava nenhum. Livre de todas as preocupações voava de árvore em árvore pelo parque, curiosa e conversadeira, inocente coração. No dizer geral não existia, em nenhum dos parques por ali espalhados, andorinha tão bela nem tão gentil quanto a Andorinha Sinhá.”

Jorge Amado,
in O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, Uma História de Amor

A estação da primavera

Ilustração de Lorena Alvarez
“Quando a Primavera chegou, vestida de luz, de cores e de alegria, olorosa de perfumes subtis, desabrochando as flores e vestindo as árvores de roupagens verdes, o Gato Malhado estirou os braços e abriu os olhos pardos, olhos feios e maus. Feios e maus, na opinião geral. Aliás, diziam que não apenas os olhos do Gato Malhado reflectiam maldade, e sim, todo o corpanzil forte e ágil, de riscas amarelas e negras. Tratava-se de um gato de meia-idade, já distante da primeira juventude, quando amara correr por entre as árvores, vagabundear nos telhados, miando à Lua Cheia canções de amor, certamente picarescas e debochadas. Ninguém podia imaginá-lo entoando canções românticas, sentimentais."


Jorge Amado, in O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, Uma História de Amor



18 de março de 2012

Pai, o mesmo jardim à minha porta

Ilustração de Efira
Quando a ausência cruza os caminhos, a luz brilha menos e ergue-se a saudade. A presença é agora sem fronteiras, sem sofrimento, numa compreensão sem barreiras, antes impossível.

 Em homenagem, os versos de Sophia que marcaram a partida do meu pai, quando ainda não havia "o mesmo brilho" nem "a mesma festa". 
Ilustração de Efira


Quando

Quando o meu corpo apodrecer

Continuará o jardim, o céu e o mar,

 Haverá longos poentes sobre o mar,

 Outros amarão as coisas que eu amei.

 Será o mesmo brilho, a mesma festa,

Será o mesmo jardim à minha porta

 Sophia de Mello Breyner, in Dia do Mar (poema com supressões)

16 de março de 2012

Treinar os músculos da paciência

Sarah Jane Szikora, Contraste nobre
Para treinar os músculos da paciência, o senhor Calvino colocava uma colher de café, pequenina, ao lado de uma pá gigante, pá utilizada habitualmente em obras de engenharia. A seguir, impunha a si próprio um objectivo inegociável: um monte de terra (50 quilos de mundo) para ser transportado do ponto A para o ponto B – pontos colocados a 15 metros de distância um do outro.
(…) E Calvino utilizava a minúscula colher de café para executar a tarefa de transportar o monte de terra de um ponto para outro (…)
(…) Calvino sentia estar a aprender várias coisas grandes com uma pequenina colher.
 
Gonçalo M. Tavares, "A colher", in O Senhor Calvino

O meu olhar é nítido como um girassol

Ilustração de Aki
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento

Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 


Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar... 


Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro, "Poema segundo" in O Guardador de Rebanhos

11 de março de 2012

Pedaços soltos do mundo

Ilustração de Carlos C. Lainez
Os artistas são os que passam a sua vida a ligar os pedaços soltos do mundo.                                                                                                                                                                                      Yves Simon


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Cidade



Ilustração de Carmen Guerrero
Ilustração de Carmen Guerrero
 








Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,

Ilustração de Aki
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,

Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.

Sophia de Mello Breyner Andresen, Obra Poética I, Caminho



9 de março de 2012

Pássaro em vertical

Ilustração de Gennine D. Zlatkis
Cantava o pássaro e voava

                cantava para lá

voava para cá

voava o pássaro e cantava

de

  repente

            um

               tiro

                  seco

      penas fofas

   leves plumas

mole espuma

  e um risco

      surdo

         n

         o

          r

          t

          e

     

          _

          s

          u

           l.


Libério Neves

6 de março de 2012

A força das palavras

Ilustração de Anna Himself
De novo as palavras de Gonçalo M. Tavares, numa reflexão sobre a crença de que as palavras têm relação com o real: de facto - diz o jovem escritor e filósofo -, palavra e ato, palavra e realidade são independentes. A linguagem é arbitrária, como ensinam os linguistas. Posso chamar mesa a um objeto com quatro pernas e um tampo, mas poder-lhe-ia chamar sofá ou cão ou montanha... A convenção quis se chamasse mesa. Também posso levantar dois dedos e dizer "tenho aqui cinco elefantes". É esse o mundo da literatura, que não copia o real, antes o transforma ou simplesmente o transporta. Paralelamente.

Um universo a saborear, com a força das palavras e dos textos. A força das palavras que advém da imagética, da semiótica, do seu sentido vital, da sua conotação, ou de uma inexplicável realidade, que perdura, século após século. A força das orações, concluía Gonçalo M. Tavares, não é uma força literária.

De onde vem, pois, tal força?    





4 de março de 2012

A crise e a queda segundo Gonçalo M. Tavares


Ilustração de Carlos Aponte
A crise remete-nos para a figura da queda, ilustrada neste texto de Gonçalo M. Tavares: 

Do alto de mais de trinta andares, alguém atira da janela abaixo os sapatos de Calvino e a sua gravata. Calvino não tem tempo para pensar, está atrasado, atira-se também da janela, como que em perseguição. Ainda no ar alcança os sapatos. Primeiro, o direito: calça-o; depois, o esquerdo. No ar, enquanto cai, tenta encontrar a melhor posição para apertar os atacadores. Com o sapato esquerdo falha uma vez, mas volta a repetir, e consegue. Olha para baixo, já se vê o chão. Antes, porém, a gravata; Calvino está de cabeça para baixo e com um puxão brusco a sua mão direita apanha-a no ar e, depois, com os seus dedos apressados, mas certeiros, dá as voltas necessários para o nó: a gravata está posta. Os sapatos, olha de novo para eles: os atacadores bem apertados; dá o último jeito no nó da gravata, bem a tempo, é o momento: chega ao chão, impecável.

Gonçalo M. Tavares, 1º sonho de Calvino in O Senhor Calvino

Ilustração invertida
Aparentemente, esta personagem só se preocupa com a sua aparência física. É uma primeira leitura. Outra interpretação possível é a de que mantém a calma e o equilíbrio quando está a cair.

O que fazemos quando caímos e o que é importante nesses momentos? De que serve ser inteligente quando se cai? Ou ser muito belo? Ou muito poderoso? - interrogações lançadas por Gonçalo M. Tavares na Sessão de Estudos "O mal e a alegria em tempos sombrios" (Metanoia).
 

1 de março de 2012

Canção



Tinha um cravo no meu balcão;
veio um rapaz e pediu-mo
– mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;
veio um rapaz e pediu-mo
– mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço,
só não dei o coração;
mas se o rapaz mo pedir
– mãe, dou-lho ou não?

Eugénio de Andrade